Mensageiros da Madrugada


Em algum lugar do tempo e do espaço...

As noites estão mais longas no inverno do hemisfério sul. As brumas permeiam as alfombras das ruas desertas, enquanto pequenas luzes tentam penetrar nas sombras das luminárias. No alto do poste, um ruído solitário de uma coruja branca que olha atentamente para o fim da rua, de onde surge uma silhueta cambaleante de mulher.

Suas vestes estão rasgadas pela força da violência de outras mãos. Sua face está escondida pelo sangue que escorre na sua testa, vindo da raiz dos seus cabelos longos. Ela vem pelo meio da rua, quase nua e cai em cima do meio fio da calçada. No silêncio da madrugada seu choro triste canta para a Lua minguante, que surge entre as nuvens passageiras. Sua vida chegou ao fim da linha, no abandono de tudo o quanto ela sonhou um dia. O sereno vai caindo, umedecendo sua pele arrepiada pelo flagelo do frio. Seu corpo estremece seus sentimentos de dor, enquanto a madrugada é um açoite indelével para seus pensamentos indefectíveis.

Seu martírio, foi ser espancada pelo vício doentio dos seus algozes e, no meio fio da calçada, ela chora as escolhas que a trouxeram para este instante derradeiro.

De repente, um feixe de luz desce de um portal aberto no céu, trazendo uma legião de espíritos benfazejos para auxiliar o destino desta mulher. Sem forças, ela olha a sua volta e só consegue ver mãos irradiando luzes em direção ao seu corpo. No cansaço da sua alma, ela adormece profundamente.

Quando a madrugada começa a dar lugar para os raios do nascer do sol, a mulher acorda com o barulho confuso dos passarinhos enfileirados no fio do poste. Ela está deitada num colchonete, coberta por uma manta, vestida com um pijama de flanela e sem nenhum sinal de sangue ou corte em sua pele.

Era um sonho ou ela teria acordado?

Depois dessa madrugada, uma mensagem habitou para sempre o coração desta mulher, renascida na luz.
 
 
*Publicado na Antologia "Contos da Madrugada" - Lançamento: Julho / 2010 - CBJE - Rio de Janeiro

Comentários

  1. Hellen,
    Que legal seu texto

    Muitas vezes as pessoas se conscientizam a tempo de seus erros e isso faz com que sejam acolhidas por esses mensageiros de luz e encontrem o caminho certo.
    bjs

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  2. Linda Helen!
    Sinto que escreves com o coração, adoro te ler!
    Obrigada pelo seu carinho sempre!
    Beijinhos de luz!

    *-*

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  3. Todos temos um caminho a seguir, com paz.
    Beijo Lisette

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  4. Olá, desculpe invadir seu espaço assim sem avisar. Meu nome é Fabrício e cheguei até vc através do blog seara de versos. Bom, tanta ousadia minha é para convidar vc pra seguir meu blog Narroterapia. Sabe como é, né? Quem escreve precisa de outro alguém do outro lado. Além disso, sinceramente gostei do seu comentário e do comentário de outras pessoas. Estou me aprimorando, e com os comentários sinceros posso me nortear melhor. Divulgar não é tb nenhuma heresia, haja vista que no meio literário isso faz diferença na distribuição de um livro. Muitos autores divulgam seu trabalho até na televisão. Escrever é possível, divulgar é preciso! (rs) Dei uma linda no seu texto, vou continuar passando por aqui...rs



    Narroterapia:

    Uma terapia pra quem gosta de escrever. Assim é a narroterapia. São narrativas de fatos e sentimentos. Palavras sem nome, tímidas, nunca saíram de dentro, sempre morreram na garganta. Palavras com almas de puta que pelo menos enrubescem como as prostitutas de Doistoéviski, certamente um alívio para o pensamento, o mais arisco dos animais.


    Espero que vc aceite meu convite e siga meu blog, será um prazer ver seu rosto ali.


    Abraços

    http://narroterapia.blogspot.com/

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  5. Maravilhoso e inspirador conto, reporta-me as madrugadas, que por motivos profissionais, percorri ruas e travessas e... Vi a dureza do coração humano e a frieza e contudência de suas ações! Sim a luz não nos falta, disto sei, tal luz já vivenciei! Saudações fraternas

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Agradeço sua atenção.

Helen De Rose