A menina de vestido rosa-chá


Era uma segunda-feira, quando fui chamada por telefone para fazer uma visita samaritana. A filha da dona da casa estava aflita, contava que havia muitas brigas e desentendimentos entre os familiares.

Nessas visitas samaritanas todos os familiares saem da casa, enquanto as orações são feitas em cada cômodo com defumador. Todas as janelas são fechadas, todas as portas são fechadas depois de receberem orações em cada canto. Este é um trabalho de caridade e fé.

Era uma casa grande de dois andares, com uma escada e um mezanino na sala. Comecei pelos cômodos da parte de baixo, com as mesmas orações que sempre faço enquanto vou acendendo cada defumador. A fumaça vai impregnando cada espaço, retirando os miasmas envelhecidos pelo tempo. Imagens fragmentadas de momentos que ficaram suspensas na dimensão etérea da vida sobrenatural.

Até então não havia sentido, visto ou ouvido nada. Então subi a escada que ligava o andar de cima, onde estavam os quartos, banheiros e um corredor. Do início do corredor, vi que o espelho do banheiro social estava trincado há muito tempo, por causa das infiltrações de vapor, que vão retirando o brilho do espelho. Foi quando eu ouvi um choro de criança. Olhei para o canto direito do corredor, diante do espelho trincado, havia uma menina sentada com um vestido rosa chá, segurava uma boneca de porcelana. Ela parecia ter uns cinco anos, cabelo castanho todo cacheado e os olhos tristes. Estendi a mão em sua direção e ela olhou pra mim, dizendo:

- Eles foram embora e me deixaram aqui! Eu não quero ir embora! Estou esperando por eles! – Senti sua tristeza e respondi:

- Venha comigo, eu levarei você até eles. (Ela me acompanhou e permaneceu no meu olhar).

Terminei minhas orações em cada cômodo da parte de cima, deixando a casa totalmente defumada até sair pela mesma porta que eu entrei. Recomendei aos donos que esperassem dez minutos, antes de entrar na casa e abrir todas as portas e janelas. Pedi também para a dona da casa procurar saber quem construiu aquela casa e a história dos que viveram ali. Aconselhei aos familiares que permanecessem em oração, encontrando a paz de espírito.

Depois de terminar todo o trabalho samaritano, procurei por alguns participantes da Federação Espírita para fazer um círculo de oração e orientação para encaminhar a menina de vestido rosa chá. Segundo os mentores espirituais ela encontrou seus familiares.

Uma semana se passou e a filha da dona da casa me procurou. Ela me contou que o homem que construiu aquela casa tinha uma netinha de 5 anos e que ela veio a falecer por problemas de saúde. A família passou por momentos tristes e preferiram procurar outro lugar para morar. Esse fato aconteceu na década de 50. A menina permaneceu na casa desde então e foi socorrida pelo trabalho samaritano de caridade e fé.



* Lançamento 10/08/2010 - "Ab-absurdo" / Contos - Edição 2010 - CBJE - Rio de Janeiro




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Helen De Rose