A imensurável tristeza de uma menina


Em algum lugar do tempo e do espaço...

Vivia uma menina que adorava rosas...

Uma vida perdida, nos sonhos mergulhados na lama, das palavras jogadas ao vento, por metáforas camufladas de uma "estória" escrita, pelas alucinações de um insano escritor. Uma "estória" que todos elogiavam, mas, não tinham noção da sujeira contida ali, por entre palavras encantadoras e rebuscadas de expressões poéticas.

Foi nesse momento, que a menina começou a morrer intimamente. À medida que ia lendo cada palavra, a tristeza foi tomando conta do seu ser, e começou a sangrar pelos olhos, pelo nariz, pelos ouvidos, por cada poro do seu corpo, pois, era o seu coração que estava se desfazendo a cada palavra que lia.

Ela pensava em todas as palavras de amor que, um dia, aquele escritor insano lhe disse, e agora estava destruindo tudo com seus pensamentos maliciosos. O que ela poderia fazer com a imaginação de um insano, que se deixava levar por alucinações presentes? Apenas chorar sua tristeza imensurável...

Uma menina que acreditava no seu amor, e se dedicava o quanto lhe fosse possível por ele. Mas, nada do que ela fazia tinha importância mais. Porque virou alvo do martírio existente na mente daquele escritor insano e inconsequente.

Mal sabia ele, que a partir daquele momento, arrancava o coração de uma menina de suas entranhas, e jogava no lodo existencial da sujeira insana, da sua mente doentia.

A menina começou a entender que ele não a amava mais. Pois quem ama, é feliz e não deseja entristecer a sua amada, contando uma estória sem fatos comprovados, manchando a imagem da menina, de forma tão cruel.

Ele mesmo se declarava insano, afogado nas suas ilusões da sua racionalidade bêbada. Mas estava intacto moralmente, vitimizando-se no texto poético que lhe aprazia escrever. E citava a menina, desprezando sua origem de vida, sua conduta moral e ética, imaginando amantes sexuais pra ela, que nunca existiram na sua vida, ao lado dele. Tudo era dos anseios contidos na mente do escritor, que imaginava a traição daquela, que ele dizia amar. Mas, ele acreditava fielmente nas suas alucinações, acreditava que ela ocultava tudo dele, criando uma perseguição perene, sem limitações.

Concebia para a menina um coração gelado, sem vestígios de sentimentos, abortando quaisquer possibilidade de amor.

Então ela pensou: como pode ele dizer tudo isso, se minha vida é o meu amor por ele? Se o meu coração lhe pertence? ...e caiu em prantos...

Ele contou uma "estória" para dar prazer a sua tristeza, ao seu sofrimento que lhe acompanhava desde o nascimento. Ele contou uma "estória" para ser o mártir incontestável de um amor que acreditava ser traído, de acordo com suas alucinações. Ele contou uma "estória" para receber todos os elogios diante da sua insanidade mental.

E a menina, entristecida pelo o amor que sentia e não era confiada, por ser julgada e desprezada dessa forma, tão doentia, entrou em depressão profunda, e ao anoitecer, foi encontrada num rio afogada, morta pelas mãos do seu insano amado escritor, na tragédia encenada nos palcos da sua estória de horror.


*publicado em Maio/2008 - Contos Fantásticos Vol 13 - CBJE - Rio de Janeiro



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